A minha vida profissional é cheia de primeiras vezes. Algumas são, por vezes, empreitadas pequeninas, mudanças sutis no modo de fazer as coisas, aplicando artífices para aprimorar processos. Em outras situações, as “primeiras vezes” me exigem um pouco mais de esforço, têm um ciclo de aprendizado maior e me submetem (muitas vezes na marra, mas assim, vou) a uma verdadeira jornada de transformação.
Talvez seja a profissão que escolhi, a comunicação. É verdade que no meu diploma está escrito jornalismo… E eu me orgulho muito dessa escolha. Se perguntam, pá, respondo: Sou jornalista! Mas, na prática, quantos de nós tivemos a chance de atuar no jornalismo tradicional? Alguns nunca quiseram. Já outros, nunca tiveram a oportunidade.
No mercado, a maioria de nós, jornalistas, têm desbravado o amplo campo da comunicação e marketing (COM LOUVOR): além de ocupar as redações, estamos na comunicação institucional, nas mídias sociais, trabalhando com eventos, escrevendo para melhorar a experiência do consumidor em aplicativos e interfaces… Sem falar daqueles que, com bravura, foram, por conta própria, eles mesmos, criar conteúdo de qualidade como vozes independentes, nas redes sociais ou como veículos de informação.
Seja por “querência”, poucas oportunidades nas redações ou necessidade de acompanhar um mundo midiático diverso, permeado pelo digital, corremos atrás, nos capacitamos e, hoje, somos profissionais múltiplos: escrevemos, planejamos estratégias, analisamos números, atuamos em todas as frentes da comunicação.
EU NÃO ESTOU ROMANTIZANDO, muito menos pretendo apoiar a prática abusiva de acúmulo de funções. O que acontece é que, para quem trabalha com atividades criativas e/ou de planejamento estratégico, assim como é muito difícil desligar o botão quando acaba o expediente, é impossível pensar em ações de comunicação sem considerar o cenário como um todo, sem ter conhecimento sobre áreas correlatas. E, nessa, acabamos aprendendo, nos capacitando.
Espero que entendidos sobre eu não estar defendendo nem romantizando a exploração de nossos corpos e mentes em trabalhos que não nos pertencem e/ou não foram combinados, ou a precarização da nossa suada mão de obra, sigamos.
Como disse, sinto-me diante de novos desafios profissionais e estreias constantemente (vou poupar vocês de citar meus brilhantes feitos – risos–, porque vai parecer uma ode ao meu ego. Deixarei meus méritos para o meu currículo). Tanto, que, algumas vezes, diante da necessidade de me reinventar e aprender novos modos ou coisas que o meu trabalho exige, me pego exaurida pensando: NOSSA, eu só queria um pouco de calmaria. Queria apenas uma vez desempenhar uma coisa que eu já estivesse CA RE CA de saber, sem me preocupar se eu vou me sair bem, se estou no caminho certo, se vai funcionar etc., etc.
No entanto, essa sensação é só fruto da minha natureza humana que gosta é de reclamar, porque, ao menor sinal de calmaria, de uma atividade ou projeto pouco desafiadores, já me sinto entediada, claudicante, à espera de algo que me impulsione a aprender e a me superar.
Eis o que me motivou a escrever este texto: em paralelo à minha carreira na comunicação, me capacitei e atuo, eventualmente, como preparadora e revisora de textos para o mercado editorial. Por isso, nas horas vagas, faço parte de uma agência de tradução voluntária e fictícia. O objetivo é acolher profissionais desses segmentos que estejam em busca de aperfeiçoamento e troca por meio da prática de tradução, preparação e revisão de textos de ficção e não ficção.
Pois bem, semana passada, uma coisa que eu jamais imaginara fazer caíra nas minhas mãos: uma revisão de legendagem. Oi? Como? Nunca fiz. Como faz? Baixa programa daqui, lê tutorial dali, descobre acolá que existem técnicas de legendagem… Depois de aprender o básico do programa de legendagem, me aventurei e coloquei a mão na massa em três episódios de um desenho infantil (fofo, que meu filho vê).
Claro que, se atividade estivesse “valendo”, ou seja, fosse um trabalho real, eu jamais me candidataria a executá-la sem NUNCA na vida ter visto sequer um vídeo no YouTube sobre o ofício. Mas, como aspirante, aprendiz, poxa, oba!, me joguei. E que delícia a sensação de fazer algo novo, de avistar TODO um universo ainda misterioso a desbravar. Me senti uma criança diante de descobertas sobre o funcionamento do mundo. Fiquei imersa numa excitação e deslumbre com o fato de sermos seres potentes, cheios de talentos e prontos a dar ainda mais brilho a nossa existência por meio de uma coisa tão simples: se permitir aprender.
Se obriguem a fazer coisas pela primeira vez sempre. Podem ser pequeninas coisas, podem ser coisas na vida pessoal (PRINCIPALMENTE, por favor), pode ser um curso, um workshop, um método novo de mexer em planilhas. Mas faça alguma coisa pela primeira vez sempre. Mantenha-se em busca dessa sensação infantil de espanto alegre diante das possibilidades do mundo e da sua própria capacidade de realização. Eu tenho tentado : )
ps.: a menina da foto que compõe esta postagem sou eu, aos seis anos (mais ou menos), andando de bicicleta sem rodinhas pela primeira vez.