Talentos da literatura contemporânea

Nota do Blog: Esta matéria foi publicada originalmente no site Conexão Sesc.

 Felipe Holloway e João Gabriel Paulsen

João Gabriel Paulsen, mineiro, de 19 anos, e o professor de literatura Felipe Holloway cearense que reside em Mato Grosso, são os ganhadores do Prêmio Sesc de Literatura 2019. O doce e o amargo, livro de João, garantiu o primeiro lugar na categoria Contos. Felipe teve o livro O legado de nossa miséria eleito como o número um da categoria Romance.
Valioso ao panorama editorial brasileiro, o Prêmio Sesc de Literatura vem, desde 2003, revelando talentos e lançando autores que, após a estreia, seguem escrevendo suas próprias carreiras literárias. 

Por isso, receber a notícia de ser o mais recente vencedor significa reconhecimento e oportunidade para esses escritores. “A gente passa por momentos de insegurança, desesperança e até pensa em desistir. Ser contemplado com esse prêmio é maravilhoso e funciona como um aval de que podemos e devemos seguir escrevendo”, comentou Felipe, cujo livro, de “temática cotidiana que flerta, porém, com o realismo fantástico”, nas palavras do próprio autor, narra a história de um crítico literário, que conhece um de seus escritores preferidos e descobre como ele constrói suas obras.

Já para João Gabriel, estudante de filosofia, que escreve desde os 15 anos, ser um dos vencedores é algo especial. “Fiquei dias pensando nesse resultado. E se eu ganhasse, como seria?  Estou muito animado com o que virá”, contou o jovem autor, complementando que o fio condutor dos contos de seu livro são experiências vividas por ele, algumas de maneira pessoal, e, outras, como espectador. “Os contos mostram o lago doce e amargo de qualquer vivência”, salientou.

Circuito de lançamento

Tobias Carvalho e Juliana Leite, ganhadores de 2018.

Além de terem obras publicadas, pela Editora Record, os ganhadores participam de eventos de lançamento e partem num circuito de um ano pelo Brasil quando, além de divulgar o livro, conversam com o público, conhecem editores, ou seja, vivem a carreira de escritor. É para essa jornada que João Gabriel e Felipe deram o primeiro passo, seguindo a trilha de outros jovens escritores, contemplados em anos anteriores, como Juliana Leite, do Rio de Janeiro, e Tobias Carvalho, do Rio Grande do Sul, ganhadores do concurso em 2018.
Entre as mãos, livro de Juliana Leite que conquistou o primeiro lugar na categoria Romance, levou, no mesmo ano, o prêmio de Melhor Livro de 2018 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Foi a primeira vez que um estreante ganhou o APCA.  Assim como João Gabriel, Tobias Carvalho é um dos mais jovens escritores a ser contemplado pelo Sesc. Com a obra “As coisas”, categoria Conto, ele esteve em diferentes estados para conversar com o público e divulgar a publicação.

Ter esse impulso do Prêmio Sesc na trajetória é, sem dúvida, uma oportunidade única na vida de qualquer escritor estreante. Aline de Medeiros, da Gerência de Cultura do Rio Grande do Sul é responsável por apoiar os ganhadores locais durante o ano de divulgação e teve a oportunidade de acompanhar Tobias. Ela comenta que participar da projeção de jovens escritores tão talentosos é um orgulho para o Departamento Regional. “Vibramos quando alguém do Rio Grande do Sul se destaca. Assim como temos enorme alegria em receber os demais vencedores que nos visitam em turnê”, concluiu Aline.

Entrevista: Assis Brasil

Além de importante autor brasileiro, o porto-alegrense Luiz Antonio de Assis Brasil é um dos mais experientes escritores a se dedicar ao estudo e ensino do gênero ficção no país. Há 30 anos à frente de uma Oficina de Criação Literária na Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, onde reside, Assis Brasil, que já foi membro da comissão de avaliação de livros do Prêmio Sesc de Literatura do ano de 2010, concedeu entrevista ao Conexão Sesc Brasil.
O bate-papo fluiu em direção à importância do Prêmio para o cenário literário do país e ofereceu, ainda, seleção de livros para aqueles que querem fazer da leitura uma prática mais presente no cotidiano. 

Qual é a importância de concursos como o Prêmio Sesc de Literatura na revelação e no estímulo de novos talentos no Brasil?
Assis Brasil: São muito importantes em dois sentidos: o vencedor vê sua vocação confirmada, e isso é um enorme estímulo. Ao mesmo tempo, o prêmio é um bom aval perante as editoras. Nenhuma editora deixa de ler os originais de um autor premiado. Participar da seleção em 2010 foi, ao mesmo tempo, um desafio, por conta da necessidade de administração do tempo para ler os indicados, e uma bela experiência de constatação da vitalidade da nossa literatura.

Como foi participar da banca que revelou Luisa Geisler como a mais nova ganhadora até hoje do Prêmio Sesc de Literatura?
AB: Luisa oferece uma prosa fresca e muito sedutora, cheia de invenções. A premiação dela foi absolutamente natural.

Recentemente, você lançou Escrever ficção, um livro que reúne técnicas e dicas para quem quer se aventurar na escrita ficcional. Você já tem a previsão de lançamento de novos livros?
AB: Estou escrevendo uma novela, sob o título de Leopold, que pode ficar pronta até o final de 2020. Quanto a um livro ao estilo de Escrever ficção, tenho uma ideia, mas não sei se vou começar a trabalhar nela. Talvez uma obra destinada a quem ensina Escrita Criativa. 

Você poderia indicar três livros da literatura mundial que, além de seus preferidos, possam ser boas recomendações para aqueles que gostariam de conhecer melhor a literatura clássica?
AB: Crime e castigo, de Dostoiévski; Orlando, de Virginia Woolf; e A comédia humana, de Balzac.

E três clássicos da literatura brasileira de ficção?
AB: “Memorial de Aires”, de Machado de Assis; “Viva o povo brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro; e “Vidas secas”, de Graciliano Ramos. 

Na categoria contos, teria uma ou duas indicações de livros/autores contemporâneos ou não para os funcionários do Sesc?
AB: Contos completos, de Luiz Vilela; Contos completos, de Sergio Faraco; e Os melhores contos, de Lygia Fagundes Telles.

O que você gosta de fazer no seu tempo livro? Gosta de assistir a filmes, documentários?
AB: Não tenho nenhum hobby. Assistir a um filme, ao menos para mim, não é hobby – é trabalho. Na verdade, não relaxo nunca. Terei toda a eternidade para isso.   

Conheça a trajetória literária de outros ganhadores do Prêmio Sesc de Literatura. 

Luisa Geisler – Categoria Contos, 2010
Quando ainda era criança, Luisa Geisler decidiu que seria escritora. E não foi apenas nessa resolução que ela, hoje com 24 anos, foi precoce. Nascida em Porto Alegre (RS), foi a mais jovem escritora a ganhar o Prêmio Sesc de Literatura, em 2010, quando tinha apenas 19 anos. O reconhecimento veio com o livro Contos de mentira. A determinação e o talento também fizeram dela a única a ganhar duas vezes o mesmo prêmio, em categorias distintas. No ano seguinte, Luisa foi contemplada com o primeiro lugar pelo romance Quiçá. Em seu novo livro, Enfim, capivaras, previsto para ser lançado em junho deste ano, a autora conta a história de um grupo de jovens que sai em busca de uma capivara que não existe. No momento, Luisa está a caminho de Buenos Aires, na capital da Argentina, para participar de uma residência literária destinada a escritores que será realizada no Malba (Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires). Lá pretende começar a escrever seu próximo romance.

Lúcia Bettencourt – Categoria Contos, 2004
Lúcia Bettencourt não para de escrever. Depois de vencer o Prêmio Sesc de Literatura em 2004, com a coletânea de contos A Secretária de Borges, a escritora do Rio de Janeiro emendou um trabalho atrás de outro, alternando escritas curtas, romances e livros infanto-juvenis. Em 2012, lançou O Amor acontece: um romance em Veneza e, em 2015, O regresso, a última viagem de Rimbaud, indicado como finalista do Prêmio Rio na Categoria Melhor Livro de Ficção, em 2016. A partir de 2011, Lúcia passou a escrever livros infantis. Agora, ela acaba de lançar uma antologia ao lado de outras autoras. A travessia do cotidiano, da Editora Bambolê, reúne histórias de sete personagens femininas e aborda o cotidiano da mulher. A autora ainda tem no forno mais dois livros, que pretende lançar em breve.

André de Leones – Categoria Romance, 2005
André de Leones é de Silvânia, uma cidade com pouco mais de 20 mil habitantes que fica no interior de Goiás, embora more em São Paulo hoje em dia. Com Hoje está um dia morto, seu livro de estreia, garantiu ao autor o Prêmio Sesc de Literatura de 2005. É autor de outros romances e coletâneas de contos, como Paz na Terra entre os monstros” (Record, 2008), de resenhas de antologias, no Brasil e no exterior, como Vou te Contar – 20 Histórias ao Som de Tom Jobim, organizado por Celina Portocarrero. Paralela à divulgação da sua mais recente obra, Eufrates, o autor se prepara para lançar o primeiro livro infanto-juvenil, intitulado Daniel está viajando, pela Editora 8 ½. A história é de um menino e suas percepções diante da morte da avó.

Wesley Peres – Categoria Romance, 2006
Além de escritor, Wesley Peres é psicanalista. Uma profissão que traz valiosos insumos para a sua produção literária. Com o romance Casa entre vértebras, ganhou em 2006 o Prêmio Sesc de Literatura na categoria Romance. Depois, publicou As Pequenas Mortes, em que analisa o corpo, a doença, a dor e o prazer.  Em maio, Wesley lançou mais uma publicação, o livro de poemas O corpo de uma voz despedaçada, pela editora Martelo Casa Editorial. Recentemente, o autor goiano foi contemplado com um edital do Projeto Rumos Itaú Cultural, que oferece suporte financeiro a escritores, e trabalha no seu próximo romance, que se chamará Cartografia de um doente dos nervos.

Obra de André de Leones nas telas de cinema

Os personagens de André de Leones em Hoje está um dia morto ganharam vida também nas telas de cinema. O longa-metragem “Dias vazios”, que teve como base o livro de Leones, estreou no último mês de maio. Assim como no livro, o filme aborda as ambições comuns e a falta de utopias de uma geração de jovens que luta para escapar de uma vida cheia de tédio, tristezas e incertezas. Assista aqui ao trailer.

Para ler mais! O que eles indicam

Confira a lista de indicações especiais que os ganhadores do Prêmio Sesc de Literatura entrevistados nesta reportagem ofereceram para quem quer se aventurar pelo universo da literatura

Luisa Geisler indica: Pequenos incêndios por toda parte, de Celeste Ng

Lucia Bettencourt indica: Ciranda de Pedra, de Lígia Fagundes Telles

André Leones indica: Azul corvo, de Adriana Lisboa

Wesley Peres indica: Nossa Teresa – vida e morte de uma santa suicida, de Micheliny Verunschk.