Nota do Blog: Esta matéria foi publicada originalmente na Revista KIDSin, no ano de 2012.

Uma tendência paira pelo ar… Já não se fazem mais móveis para crianças como antigamente, nem objetos de decoração, nem mesmo brinquedos. De uns anos para cá, uma turma de designers e arquitetos descolados vem cada vez mais produzindo peças especialmente para o mundo infantil. Elas são cheias de conceitos de design, mas também levam em conta o universo infantil e, principalmente no quesito mobiliário, a funcionalidade dos móveis e objetos, projetados de modo a garantir a segurança das crianças. Conheça agora designers que fazem parte dessa tropa, que está cheia de boas ideias para fazer o mundo dos pequenos mais divertido e caprichado na estética, e com um toque de arte também, por que não?

João Bird desenhou sua primeira cadeira aos 15 anos. Mas a vontade de colocar no papel os objetos que passavam pela cabeça já era antiga e inspirada pelo avô, que tinha a marcenaria como hobby. Desde 2007 ele produz móveis e objetos sustentáveis. Mas foi em 2010 que Bird lançou uma coleção exclusiva para bebês, a BIRD BB. Dos grandes vilões do efeito estufa, como botijões de gás CFC, são feitos banquinhos e mesinhas, com assentos de lona de caminhão reutilizada e pés de madeira de demolição. Na linha BIRD BB há ainda cadeiras, pufes e biombos. 

O principal conceito de Bird é o sustentável, mas ele pensa também em outras coisas, como, claro, projetar móveis sob medida para as peripécias infantis. Os objetos não possuem quinas, por exemplo, e demais armadilhas que possam machucar os pequeninos. O designer cria pensando em diversão e estética, tanto que os móveis são lindos, coloridos e cheios de atitude (haja vista a mesinha da primeira coleção infantil do artista, que tem espaço para guardar lápis de cor e deixar a imaginação voar).

Para Bird, projetar móveis para o mundo infantil é uma experiência diferente do processo de criação que usa para fazer peças para gente grande. “O adulto verbaliza e troca informações. É o nosso universo, sem grandes surpresas. Já com os bebês, tudo é mais delicado. Por isso é preciso observar muito mais na hora de criar. Tudo é diferente e tem outro significado”, conta amiúde o profissional à KIDS in.

Quem também tem colocado o talento a serviço das crianças é o Studio Slow Fludd, em Veneza, Itália; um coletivo de cinco jovens entre 25 e 27 anos. O estúdio produziu, para uma exposição sobre comida e design, um brinquedo de madeira muito especial, o Slow Wood. O objetivo era estimular a imaginação das crianças com sanduíches montáveis, com diferentes e inusitados ingredientes de madeira.

– Além de divertir, o brinquedo proporciona uma experiência de alta qualidade visual nos pequenos, pois a exploração “sem pressa” de montar o sanduíche como quiser preserva um tipo peculiar de interação entre mão/olhos/cérebro – comenta Sara Maragotto, um dos membros do coletivo.

No que diz respeito ao processo criativo, o pessoal do Slow Fludd, acredita que a infância já faz parte do centro de interesse e inspiração, então, criar para as crianças, acaba sendo mesmo um processo natural.

O jovem Gustavo Martini, de 22 anos, é mais um que desponta no mercado de design infantil. Ele é criador do triciclo Woody que traz consigo aquela nostalgia gostosa de brinquedo de antigamente. Todo feito em madeira, o conceito surgiu da convivência de Gustavo com o sobrinho Pietro, nascido em 2009:

– O legal de se desenhar para crianças é que, desde o início do acompanhamento nos estudos volumétricos até o final do projeto, tudo acaba virando uma grande diversão! 

Gustavo criou um objeto que não só inspira os adultos (lógico, responsáveis pela compra), mas desperta o interesse das crianças também. “A estética dessa peça está voltada para os olhos dos pais, mas é claro que a dedicação para ajudar no desenvolvimento da coordenação motora dos pequenos e garantir a diversão eram pré-requisitos básicos”, explica o criador, que tinha em mente valorizar o design do objeto, independente de ser um brinquedo. Sim, pode ser infantil, mas precisa ser agradável aos olhos. “Aquele não precisa ser mais um objeto que deve ser guardado dentro do armário quando as visitas chegam. Ele merece estar na sala, compartilhando o espaço e fazendo parte da decoração”, complementa Gustavo.

As perspectivas do mercado

Pela força dos ventos, esse espírito tende a se tornar regra. Tudo indica que o mercado está em franca expansão, obrigada! Bom para os pais, que cada vez mais vão ficar encantados com as peças feitas para os seus pequenos, e bom para as crianças, que têm a oportunidade de manter contato desde cedo com o belo e ter estimulado, ainda que de forma inconsciente, o senso estético. “Se existir essa relação de educar a criança com criatividade e liberdade, muito cedo ela vai ser a responsável pelas próprias escolhas”, relata o designer João Bird, convencendo de vez que, dar estímulos visuais por meio de elementos do design pode ser mesmo uma boa para ter como resultado adultos com uma maior sensibilidade para as artes.

Quem tem a mesma opinião é a arquiteta Solange Libman, que atua no Fábrica Arquitetura (Rio de Janeiro) e produz móveis para a marca Abra Cadabra e Sleeper. Ela, que é mãe, sempre pensa nos móveis que gostaria de ter para os seus filhos quando se lança num projeto. Em sua criação ela leva em conta o aspecto lúdico das peças e até mesmo cultural – como projeta salas de cinema para o mundo adulto, a profissional acha importante levar o universo cultural para a vida dos pequenos por meio do mobiliário e da decoração.  “Ao fazer isso, induzimos a criança a mexer com artes desde cedo, estimulando a criatividade por meio de um espaço lúdico, que faz parte do dia a dia dela”. 

Outra aposta no mercado, além da utilização do design conceitual para a molecada como modo de estimular outros sentidos, é o filão de design sustentável para esse público. Quem afirma é João Bird, que acha importantíssimo incutir na criança conceitos sócioambientais responsáveis desde sempre:

– A perspectiva é de crescimento, pois o mercado infantil ainda não foi totalmente imbuído de valores e preocupações ambientais.

Papais e mamães, se preparem. Muito mais vem por aí. Embora a Studio Fludd ainda não tenha projetos concretos de produtos voltados para o público infantil, quando perguntados a respeito, fazem questão de deixar uma atmosfera de curiosidade solta no ar: “Talvez um livro ilustrado sobre as incríveis texturas, padrões e formas ao redor de nós aqui em Veneza. Quem sabe…”, faz mistério a representante do grupo Sara Maragotto.

Os próximos lançamentos de João Bird já estão programados e acontecem este ano. A BIRD BB vai lançar o BIRD Bercim e uma cômoda “toda trabalhada” no conceito sustentável com design de atitude. Nos planos de Martini, também há perspectivas de mais projetos para fazerem companhia ao triciclo que o “tio coruja” dedicou ao sobrinho Pietro.

Onde achar:

João Bird – www.birddesign.com.br

Studio Slow Fludd – www.studiofludd.blogspot.com

Gustavo Martini – www.gustavomartini.com

Solange Libman – http://www.fabricaarquiteturario.com