Nota do Blog: Esta matéria foi publicada originalmente na Revista KIDSin, no ano de 2012.
As crianças são imprevisíveis. De vez em quando aparecem em casa com uma frase nova, uma moda nunca antes vista, misturam referências reais com pedaços soltos da imaginação. Além de tiradas que fazem os adultos morrerem de rir, criança tem outra coisa engraçada: se afeiçoa e cria gostos que só mesmo a lógica infantil é capaz de explicar.
É o que acontece com os fãs-mirins de bandas musicais e cantores que não são da época em que essa garotada nasceu (às vezes, nem da época dos pais quando jovens). São pequenos aficcionados, que cantam todas as canções de seus ídolos, têm camisetas, CDs, vão ao show de covers e aprendem instrumentos só para poder cultuar seus ídolos.
Antes de Ivan Vaicenkovas, com 7 anos, sonhar em nascer, o seu astro já fazia sucesso. É verdade que o menino teve a influência dos pais, membros do Raul Seixas Oficial Fã Clube. Mas os quatro cantos do mundo hão de concordar que o som do cantor, que é considerado um dos pioneiros do rock brasileiro e morreu no ano de 1989, não soa como óbvio no Ipod de um menino de 7 anos, que vive em 2011. Ivan tira casquinha dos CDs do pai Zé Roberto Vaicenkovas, que, aliás, é produtor musical e já levou o filho em um show de Roberto Seixas, cover do Raul: “Ao levá-lo ao show, meu filho pensou que ele era o próprio Raul tamanho era o encantamento. Levo o Ivan a shows desde pequeno, por conta da minha profissão. Ele conhece outros artistas e bandas, mas escolheu o Raul Seixas para cantar trechos e refrões das músicas, ao modo dele”, relata o pai, sem hesitar em dizer que o filho demonstra bom gosto musical e, pelo visto, veia artística também:
– Às vezes, o Ivan apanha um violão, que, inclusive, está sem uma corda, pega uma vassoura de pé como se fosse um pedestal, uma lanterna para imitar um spot de iluminação, e canta em cima de uma cadeira algum repertório do nosso ídolo.
Maria Clara é uma menina de 8 anos que também tem influência da mãe, a professora de história Luzia Carvalho, em seu gosto musical peculiar. Apaixonada pelo grupo Roupa Nova, ela sabe todas as letras de cor e salteado e canta tão naturalmente que chega a impressionar e divertir quem está em volta: “A Maria Clara começou a gostar do Roupa Nova porque eu ouço muito. Ainda não a levei em nenhum show, mas acredito que chegou a hora e que ela ficará enlouquecida, porque é tão viciada quanto eu (risos)”, comenta Luzia.
Outra mocinha que adora sair cantarolando por aí as canções de seu artista predileto é a paranaense Louise Francine. Ainda grávida, a administradora de empresas Márcia Cassol, cantava uma música do Roberto Carlos para a filha; “Como é grande o meu amor por você” era o tema das duas. Quando a menina nasceu, Márcia passou a niná-la com a mesma canção. Hoje, com 11 anos, é Louise quem explica como uma única canção desencadeou a paixão e interesse pelo artista:
– Desde pequena ouvi esta música e outras do Roberto Carlos. Eu sentia, principalmente em ‘Como é grande o meu amor por você’, algo especial. Cada vez fui gostando mais dela e do cantor. Essa música parece uma ‘amiga’, porque fazia eu me sentir bem e feliz. Há pouco tempo pedi à minha mãe que me contasse mais da vida do Roberto Carlos e descobri várias coisas interessantes sobre ele. No final do ano passado, assistimos juntas ao especial de fim de ano na TV e foi emocionante. Gosto muito dele porque minha mãe conta que cresceu ouvindo as músicas no rádio e agora eu também cresço com elas. Eu choro quando escuto algumas, como: ‘Lady Laura’, ‘O Portão’, ‘Jesus Cristo’, ‘Nossa Senhora’. Também gosto muito de ‘O Calhambeque’.
Não menos curiosa é a atração que Davi Morettoni de Carvalho, de 6 anos, filho da jornalista Andrea Di Proffio, tem pelo Kiss. A origem da paixão pela banda de Hard Rock performática dos anos 70 ninguém sabe, ninguém viu. A mãe acha que ele assistiu alguma coisa na televisão, mas existe uma outra versão possível. A tia do menino, irmã da mãe, gosta dos roqueiros e não pensou duas vezes, ao saber da preferência, ao estimular e apurar os ouvidos da criança. Se sobram suspeitas aos familiares de onde veio a fixação, para Davi não há dúvidas, o que diz de maneira simples como só uma criança pode dizer: “Eu gosto do som das guitarras, das roupas e das poses”.
Davi não se contenta com pouco quando o assunto é cultuar a banda que mais curte. A mãe relata que aos 3 anos foi ele quem quis uma festa de aniversário com o tema Kiss. Ela ainda argumentou e sacou da cartola um básico Homem Aranha, mas não teve jeito. Depois de pirar sem saber onde encontrar a parafernália decorativa de acordo com a ocasião, o jeito foi fazer tudo personalizado: “Fizemos uma decoração com banners, banda de brinquedo e demos bonecos e buttons de lembrancinha! Todas as crianças amaram! No final da festa, eles resolveram fazer uma banda e dublaram o Kiss. Não foi nada combinado, mas ficou para a história”.
Essa graça toda que a mãe conta, você confere nas fotos. Mas o que foto nenhuma pode relatar é a alegria de Davi com um pequeno mimo da mãe. Quando o Kiss veio ao Brasil em 2009, Andrea foi cobrir o show e, na hora em que o grupo tocou a música preferida do filho, “Rock’n’Roll All Night”, ela telefonou de seu celular para que ele pudesse ouvir ao vivo.
João Pedro Tepedino Kemper é um rapaz de 8 anos. Carioca, filho da advogada Paula Lopes Tepedino, idolatria por uma determinada banda que seria normal na década de 60. Só que estamos em 2011 e o menino tem um um caso sério de bealtlemania. Tudo que a mãe sabe é que João Pedro viu o filme “Curtindo a vida adoidado” e ficou encantado com a cena em que o protagonista canta a música “Twist and shout” na versão dos Beatles. O resto foi com ele. Ela até comenta que ouviam eventualmente uma música ou outra dos quatro de Liverpool, mas nada de especial e, na verdade, o filho que acabou incentivando a família a escutar mais o grupo.
O beatlemaníaco também exigiu uma festa com a temática da banda predileta. E a mãe teve de colocar a mão na massa para produzir tudo: “Foi hora de por a cabeça para funcionar e sair em busca de notas musicais, LPs e guitarras para colar na parede. Mandei fazer dois painéis, que ficaram um barato, e um super bolo decorado. A equipe de animação deu preferência às musicas da banda e as crianças se divertiram muito. Ele ainda queria ir para a festa de terno e pintar o cabelo de preto, mas conseguimos demovê-lo dessa idéia. Aliás todo corte de cabelo é um parto em razão de querer mantê-lo igual ao dos Beatles. O que de certa forma foi comemorado, já que o corte de cabelo antes almejado era um moicano de gosto duvidoso”, comenta a mãe.
Apesar de não ter tido a oportunidade de conhecer algum componente da banda pessoalmente, o menino viu bem de longe um dos ex-membros, Paul McCartney, no último concerto solo do artista: “Conseguimos os ingressos em cima da hora e foi dado como presente de Natal. Pensamos que talvez fosse a última oportunidade dele de ver o show de um dos componentes da banda. O momento foi lindo e o melhor era escutar meu filho cantando naquele inglês peculiar: ‘sofigimmmmmm de shues sheussssssssss, traks me li node loveeeeeeeerrrrrrrr’”, finaliza a mãe com o “sotaque” de João Pedro.
*Essa matéria contou com a ajuda de Normal Lima, do fã clube da Rita Lee, e de Sylvio Passos, do Raul Seixas Oficial Fã Clube.
Foto da postagem: Sharon Garcia on Unsplash