Um é pouco, dois é bom três é demais!

Nota do Blog: Esta matéria foi publicada originalmente na Revista KIDSin, no ano de 2011.

Se a experiência de ter um único filho já é um marco na vida de uma pessoa, trazendo transformações, novidades e novos sentimentos, imagina ter mais de um de uma só vez. Para muitos, ter filhos múltiplos é um sonho acalentado desde a infância. Para outros, descobrir que se está à espera de gêmeos ou trigêmeos é uma verdadeira surpresa. Já para um terceiro grupo de pessoas, a gravidez gemelar é um projeto minuciosamente planejado.

De uma forma ou de outra, haja disposição para encarar uma gestação em dobro (às vezes em triplo, ou mais) e ainda preparar tudo para a chegada dos bebês. São móveis, roupinhas, fraldas, tudo a mais. Mas isso é só o começo: quando a turminha nasce e abre os olhinhos, é preciso montar aquele esquema estratégico, com mães, pais e babás se revezando na tarefa de dar conta dos pequenos. Isso sem falar das vovós, vovôs e outros familiares, que também embarcam na empreitada de não deixar que os pais enlouqueçam. Sabe, é porque é aquela velha história… Um dorme, o outro mama, um acorda, chora e acorda o irmão.

Mas, apesar de toda a trabalheira, quem tem o contingente em casa tão aumentado de uma só vez garante que, no fim das contas, vale mesmo a pena. Muitas são as emoções de se ter uma turminha que cresce junto na barriga, com uma ligação tão peculiar entre si – às vezes, até idêntica fisicamente –, mas, ao mesmo tempo, com personalidade própria.

Quem sabe bem as dores e as delícias de ter filhos múltiplos é o casal Márcia Holanda e Marcos Castello Branco, ela empresária e ele advogado. Eles são pais dos trigêmeos João Pedro, Gabriel e Daniel, de 3 anos. Para Márcia, o prenúncio daquilo que está por vir começa ainda na gestação: “Quando a minha barriga mexia era algo incrível, uma festa! Eu dizia para eles que estavam em uma quitinete e tinham que se ajudar”. Ela acredita que há uma ligação entre as crianças, mas comenta também como é curiosa a experiência de saber que os três bebês saíram de dentro dela, mas são tão diferentes:

– Desde cedo cada um demonstra suas características individuais, cada um tem um gênio e personalidade, seu jeito. O Gabriel é mais dengoso e muito sorridente. João Pedro é muito sapeca e arteiro. Já o Daniel é observador e crítico. Agora, todos os três são extremamente carinhosos!

Além de dar amor em dose dupla ou tripla, os pais de crianças gemelares devem estar preparados para ter trabalho e dedicação na mesma proporção. Márcia conta que a tarefa de cuidar de todos ao mesmo tempo é realmente árdua e que, nessas horas, a organização de uma rotina e a colaboração de uma babá são fundamentais: “Tem que ter uma rotina, no dia que isso se quebra, fica uma loucura. Mas, há dias em que não têm jeito! Quando ficam doentes, por exemplo, não há rotina que resista. Horário da comida, do sono, da escola, tudo isso vai para o espaço.”, comenta.

Depois de passada a fase das fraldas e da licença maternidade, começa mais uma maratona para as mães que trabalham fora de casa. Mas que é tirada de letra por essas famílias, à base de muito amor:

– Às vezes é bem difícil entenderem que eu não posso estar sempre presente na empresa. Por outro lado, os meninos também ficam tentando me esperar chegar do trabalho acordados e eu fico exausta, pois ainda tenho de brincar um pouco com eles e fazer um a um dormir. Quase sempre abro o sofá da sala, deito no meio de dois e o terceiro deita em cima de mim, eu não me mexo quase. Daniel gosta de apertar minha orelha até dormir, João Pedro gosta de segurar minha mão e Biel gosta que eu faça carinho com um paninho no pé dele.

Thatiana Pomo é mãe de gêmeas e tem a mesma opinião quando o assunto é dar conta do dia a dia da grande família: só com muita rotina. Ela e o marido são os pais de Flora e Eloah, pequeninas de 2 anos. Mas essa não foi a primeira experiência do casal, já que são pais de uma adolescente de 12 anos. Mesmo sabendo o que uma gravidez representa na vida de uma pessoa, para Thatiana o reforço na preparação foi importante durante a gravidez das gêmeas:

– A gravidez gemelar exige um pouco mais da mulher e o tamanho da barriga fica consideravelmente maior, mas já imaginávamos isso e eu tomei providências preventivas. A alimentação, os exercícios e um pré-natal bem feitos me garantiram uma condição física ótima para a gravidez. Do lado de fora da barriga, eu tenho que confessar que as mudanças foram enormes e isso acabou mexendo bastante com nossas vidas.

Mais riscos e cuidados em gestações múltiplas

Com tantas emoções, fora os cuidados com o coração, existem mais precauções quando se fala em gravidez gemelar. Isso porque ela pode ser mais arriscada tanto para mamães, quanto para a prole. “A possibilidade de prematuridade e complicações de diversos tipos aumenta proporcionalmente à quantidade de bebês, exigindo maior atenção”, diz a ginecologista especializada em fertilidade humana, Dra. Maria Cecília Erthal, do Vida – Centro de Fertilidade da Rede D´Or.

A médica afirma que, para as mamães, uma das principais dificuldades é o excesso de náuseas e vômitos, que pode ser tamanho a ponto de comprometer o estado nutricional, causando, inclusive, perda de peso. “Há, também, mais chances de hipertensão arterial e de toxemia gravídica, que engloba desde casos leves de hipertensão arterial e inchaços, até quadros de pré-eclâmpsia, eclampsia e diabetes gestacional. Inevitavelmente, na gravidez múltipla existe indicação para cesariana, procedimento que apresenta certo risco para mães e bebês, pois envolve todos os fatores que uma cirurgia possui”, diz a especialista. Ela lembra que, para os bebês, há mais riscos de problemas intrauterinos, como atraso no crescimento dos fetos e até abortos. Nesses tipos de gestação, geralmente, as crianças nascem mais cedo e menores, com alguns dos problemas a que os prematuros estão sujeitos.

Márcia Holanda, a mamãe do começo dessa reportagem, teve muitas complicações durante a gravidez. Correu risco de morte e quase perdeu os bebês mais de uma vez. Mas, quando tudo passou, veio o momento mágico: “Eles estavam gritando na sala de parto e quando foram colocados em cima de mim, pararam por completo de chorar. Impressionante!”, relata a mãe dos trigêmeos.

A história da publicitária Ana Perdigão também teve alguns percalços até que ela pudesse segurar sua duplinha nos braços. Laís e Felipe têm 7 anos e foram planejados pelos pais desde que eles eram namorados. Os nenéns nasceram de 27 semanas e tiveram que ficar na UTI neonatal. Apesar do susto, não tiveram nenhuma sequela e hoje são muito saudáveis e cheios de energia. Como as outras famílias, para o clã de Ana não foi diferente; ela é unanime em afirmar que o que salva a mãe de crianças múltiplas é uma boa e elaborada rotina e que a trabalheira é mesmo uma realidade… Mas que, claro, é totalmente compensada pela emoção de ter mais de um bebê ao mesmo tempo:

– Minha única gravidez foi de gêmeos. Então, não sei como as outras mulheres se sentem quando esperam um bebê só, mas eu me senti muito especial por estar esperando dois. Adorava senti-los chutando e ficava tentando adivinhar de quem era o chute. Pensava como estariam ali dentro juntos, conversava muito com eles. Ficava feliz quando entrava nas lojas para fazer o enxoval e a vendedora me perguntava ‘É menino ou menina?’ e eu, toda orgulhosa, respondia ‘Os dois. Estou esperando um casal’.

Apesar de trazer mais riscos, a gravidez múltipla pode ocorrer de maneira tranquila e controlada, afinal, desde que o mundo é mundo que algumas crianças vêm em pares, trios. Sendo assim, basta seguir as indicações do médico para que tudo corra bem, da concepção ao nascimento, e munir-se de muita disposição, pois a jornada é longa e emocionante.

Foto da postagem: Jens Johnsson no Unsplash